
Todo dia olho para aquele pedaço de vidro emoldurado que está junto à parede. Ele reflete aquela imagem cansada de um alguém que eu não sei quem. Não hei de ser eu.
Eu vou à batalha, ganhar mais um [duro] dia de trabalho [suado]. Ao longo do dia olho para vários espelhos, talvez olhe para o mesmo, para aquele mesmo pedaço de vidro refletivo que eu havia visto antes. Contudo, não hei de ser eu.
Meu [duro] dia de trabalho [suado] acaba, vejo-me exausto, quase morto porém cheio de mim, naquela sensação de satisfação: trabalho, enfim, cumprido! Passo pelo corredor ao chegar em casa, o espelho está lá e me mostra uma imagem cansada. Hei de ser eu?
Eu hei de ser, de certo, meu eu lírico, e não meu reflexo. Mas meu reflexo é, entretanto, o reflexo do mundo. Eu hei de estar cansado, acabado, por fora. Cansado do mundo (de “todo o mundo” e de “todo mundo”), mas não hei de ser realmente eu. Quem tem esperança, não cansa. Quem acredita, não cansa. Aquela imagem, por fim, não hei de ser eu.
Quem cansou foi o mundo (e “todo mundo”), quem não tem esperanças é o mundo, quem se acaba mais a cada momento é o mundo e não hei de vir a ser eu. Eu não canso, eu não desisto, não perco a esperança. Eu to novo e vivo, to inteiro e jovem, sou o eu lírico, talvez não só meu como também da alma do mundo.
Eu hei de ser o mundo, a alma dele está em mim e nosso reflexo, enfim, acaba por ser um só. Hei de ser, também, eu.
Um comentário:
E tem gente que eu conheço que ainda tem medo de escrever. Lógico que quando a gente lê muito a gente sempre acha que o texto dagente não está bom. Isso é natural pra todo mundo que escreve, mas a gente sabe quando escreve bem quando a gente sente a satisfação do leitor. Continue escrevendo, nunca pare. Uma boa escrita se faz da prática constante. E sempre que puder leia também, porque pra saber escrever, primeiro, a gente tem que saber ler.
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