
"E tem o seguinte, meus senhores: não vamos enlouquecer, nem nos matar, nem desistir. Pelo contrario: vamos ficar ótimos e incomodar bastante ainda." (TatiB)
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Quinta-feira, 27 de Janeiro de 2011.
Não lembro mais quanto tempo tem desde que eu ouvi de alguém que em 2012 o mundo ia acabar. Não sei se era verdade ou não, mas aquela quinta-feira de janeiro era o meu último dia de vida.
A gente passa a vida toda se perguntando o que vai fazer antes de morrer. Será que eu vou fazer falta? Será que eu vou conseguir me despedir? Será que eu vou deixar saudade? Será que eu vou poder fazer tudo o que eu quero? Será?
Mas esse dia chega a qualquer momento e a gente simplesmente esqueceu de viver pois adiamos o último dia de nossas vidas o máximo possível. Adiamos sim, com planos futuros, com atitudes de fuga, com todo o medo e a ausência de coragem. Adiamos o último dia de nossas vidas e, ironicamente, com ele também adiamos a nossa própria vida. Deixamos para viver depois.
27 de Janeiro de 2011 foi o último dia de minha vida e eu só descobri isso depois das 22h. Eu acordei feliz apesar de tudo o que se passava na minha cabeça... Eu tava no clima de que se eu não me amo e não me faço feliz, ninguém mais é capaz de me amar e me fazer feliz assim. Ainda assim, eu não sabia que era o último dia de minha vida. Talvez, e apenas talvez, se eu soubesse disso pela manhã não teria passado minha manhã na cama, aproveitando do aconchego do meu edredom enquanto assistia ao último episódio da quinta temporada de Supernatural. Talvez, e apenas talvez, eu tivesse levantado cedo para aproveitar aquele dia quente e ensolarado... Mas eu desfrutei da minha cama naquela manhã, minha última manhã.
Durante toda a minha alegre tarde eu não sabia que era meu último dia. Eu encontrei com uma amiga e viemos para cá, jogamos conversa fora, falamos sobre a locura de uma pessoa qualquer em minha vida e fomos passar uma tarde no parque com outras duas amigas. Eu não sabia que era meu último dia, mas dei risada até a barriga doer. Tomei coca-cola sentada no chão, com espinhos furando as nossas bundas. Ouvi músicas. Dei ainda mais risadas. Tirei fotos, vi um lindo e imenso arco-íris, falei sobre o futuro, esqueci o passado... Me permiti fazer uma lobotomia. Aproveitei cada raio do sol daquela tarde, que estava lindo e forte (talvez mais forte que lindo). Olhei o verde, olhei aquelas amigas, senti cada toque do vento, cada som de risada, cada aconchego de um sorriso... Não sei o que eu esperei de uma última tarde, mas eu desfrutei da minha, da minha última tarde.
Chegou a hora da noite. Eu ainda nem sonhava em descobrir que era meu último dia. Vim pra casa e me arrumei para ir para o culto. Em outras épocas, a possibilidade de alguém me ver indo a um culto da Assembléia de Deus era mínima, mas talvez por isso, por ser o meu último dia, eu fui alegre e contente. Fui falar com Deus.
Enquanto eu me arrumava para este encontro, escolhendo roupas aleatórias (porém buscando roupas compostas), querendo estar arrumada, querendo me sentir cada vez melhor comigo mesma, tive uma conversa séria com aquela mesma pessoa qualquer que fora anteriormente citada. O saldo da conversa não foi tão positivo assim para mim, não é fácil uma despedida de quem se ama, mas talvez fosse o sinal de que era meu último dia. Era o tipo de conversa que eu não teria num último dia, mas me deixou momentaneamente mais leve. Eu tive a oportunidade de mostrar àquela pessoa tudo o que eu queria, tudo o que eu pensava, tudo o que eu sentia e então, e só então, me despedir dela. Era então a hora de encontrar com Deus.
Quase 22h. O dia estava acabando, meu último dia, mas eu estava apenas começando a me daivertir. Ouvi música alta, e mesmo que eu ainda não soubesse que era o meu último dia, não importava que fosse música emo (emoponto), eu queria me distrair. Tive conversas sérias e fui desopilar. Ganhei abraços apertados de uns, abraços falsos de outros, e de alguns eu nem abraço ganhei. E continuei vivendo.
Então, depois das 22h, nos demos conta de que este era, de fato, o último dia de nossas vidas. Este era, de fato, o último dia de minha vida. O último dia. E eu precisava fazer algo. Eu precisava gritar pela orla, cantar músicas antigas, músicas bregas, músicas de quem tá curtindo uma fossa-feliz. Precisava entrar no carro e ouvir música alta. Precisava dizer que nada mais me importava, contar ao mundo que eu não sou mais virgem, agora os signos mudaram e eu passei a ser leão. Precisava comer algo que matasse minha vontade, cantar mais alto que a música, dançar sem música, passar trote, tirar onda, pular do nada. Precisava saltar mais alto que um sapo, sair pulando feito saci, tomar suco de laranja, tirar fotos. Precisava me lembrar que a vida é curta, que a felicidade tá perto, basta querer enxergar. Precisava conhecer pessoas novas, mesmo que de uma platéia distante, ver amigos antigos que não entendiam nada, gritar mais, cantar mais, falar inglês (gastar meu inglês).
Precisava... Precisava... Precisava...
Talvez, na verdade, eu nem estivesse precisando disso tudo. Talvez aquela cama e edredom que eu tinha de manhã fossem o bastante para aquele momento. Talvez eu devesse fazer mais coisas, sei lá, ajudar os pobres, abraçar meus pais, ligar para minhas amigas, dizer a quem eu amo o quanto eu amo. Não sei.
O que eu sei é que era o último dia da minha vida e eu sentia a necessidade de fazer algo com relação a isso. Se era o meu último dia, eu tinha que viver. Viver total e intensamente. Viver como se nada mais me importasse, como se ninguém me julgasse, como se nada existisse além da minha felicidade.
Eu precisava de egoísmo porque as outras vidas iriam durar e a minha não. Eu precisava, na verdade, era de ser lembrada para sempre e de, em uma outra vida, sentir saudade do meu último dia e por isso eu vivi ele intensamente.
Eu ri, eu pulei, eu cantei, eu dancei, paquerei, briguei, brinquei, decidi. E era hora de voltar para casa. Meu relógio me mostrava que já passava da 1h da manhã, o que quer dizer que o dia tinha acabado e não tinha sido meu último. O dia 27 pode até não ter sido o último mas foi um dia único e se tivesse sido o último, tava meio que perfeito e preparado para ser.
Cheguei em casa pensando nisso e percebi coisas que não havia percebido. Eu fiquei na cama porque eu adoro essa melancoliazinha. Eu aproveitei minha manhã. Eu saí à tarde com uma roupa confortável que eu adoro, porque eu precisava estar bem comigo mesma. Uma das minhas roupas favoritas para uma das minhas tardes favoritas: aquelas em que aprecio as coisas simples. Eu aproveitei minha tarde. À noite eu disse que não tinha roupa para sair. Eu não sabia que talvez fosse a minha última noite mas eu quis muito estar bem, bem comigo mesma. Coloquei minha blusa favorita, sutiã favorito, uma das minhas calcinhas preferidas. Coloquei uma calça jeans que eu gosto e, particularmente falando, é o que há de melhor. Coloquei um salto pra levantar o ânimo. A sandália? Também é das que eu mais gosto.
Eu não coloquei maquiagem, decidi que não precisava, não sei porque. Não escovei meu cabelo, saí com ele molhado, não sei porque. Na verdade, agora eu sei. Eu tava bem comigo mesma, eu tava feliz, eu tava alegre, eu tava vivendo... e vivendo bem.
Você já experimentou viver seu último dia de hoje?
Vou te contar um segredo: Hoje é o meu último dia de vida e eu vou aproveitá-lo, vou vivê-lo. Mas é o seu último dia também. O que você pretende fazer?
Já diria Caio Fernando Abreu: "Tô me afastando de tudo que me atrasa, me engana, me segura e me retém. Fui ser feliz, e não volto!"
Feliz último dia.
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"Eu sei o que eu tenho que fazer agora: continuar respirando... Porque amanhã o sol vai nascer e eu não sei o que a maré vai me trazer." (Náufrago)
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"A vida é como um livro: não importa que seja longa, contanto que seja boa"
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"Não me alimento de quases, não me contento com a metade. Não serei sua meio amiga e nem te darei meu quase amor, é tudo ou nada. Não existe meio termo". (Marilyn Monroe)
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