sábado, 17 de maio de 2008

Nem toda história tem que ter começos belos e finais felizes, quem sabe uma história real? Às vezes não percebemos o quão importante é a família em nossas vidas e todos os momentos que passamos ao lado das pessoas que amamos e que estão sempre ali, conosco. Mas, se um dia deparamos-nos com uma situação mais dificil, talves de perda, podemos passar a perceber o quão dificil isso é...

Um certo dia deparei-me com uma garotinha, ela deveria ter uns doze anos, estava sentada em um banco perto da minha casa... Olhando para o nada, seus olhos enxiam-se de lágrimas até que uma caia e esvaziava-os. Esta me chamou muita atenção por não ser muito comum meninas dessa idade sozinhas em um banco. Logo pensei que fora mais um caso romantico mal sucedido e resolvi tentar ajuda-la, mesmo sem muita experiencia de vida... Ao tentar me aproximar, achei que aquela talves não fora a melhor hora para um dialogo, mas eu não poderia apenas cruzar meus braços diante de uma cena destas.

Ao aproximar-me, reparei que ela parecia tentar "engolir" o choro, fazendo-me sentir culpada por roubar de sua paz e privacidade... Mas não parei. Ainda que pensasse em não ir até lá, não exitei a ajuda e fui oferecer o conforto de uma amizade. A garotinha tentava conter seu choro mas não era possivel, as lágrimas pareciam jorrar sobre sua face, deixando-me cada vez mais angustiada. Resolvi entrometer-me em sua vida e perguntar-lhe o que a fazia chorar tanto, tão repentinamente, como aparentava ser...

A principio pensei que ela não fosse me dar ouvidos, alguns instantes calada e preparei-me para dali sair. A garotinha mostrou-me que queria desabafar e eu fiquei para ouvi-la. Estava realmente achando que ela iria me falar que seu namorado havia traido-a ou que o namoro havera acabado, mas não, era algo mais sério, complexo e ela começa a explicar-me... Mas antes, faz um pedido: que ao fim eu reflita sobre tudo o que ela disse. Eu aceitei. Logo então ela começa.

- As vezes, só lembramos de nossas diferenças, esquecemos de nossos laços, das alegrias, dos momentos felizes vividos em familia... As vezes, só lembramos dos amigos, das cenas com eles vividas, dos momentos com eles comemorados, mas nunca da família. Eu, mesmo sendo nova, digo-lhe que todo o tempo eu fui assim... Que todo o tempo eu quis estar ao lado dos amigos e não dava a minima bola para minha familia. Até que um dia, recentimente, deparei-me com uma situação irreversivel. Agora estou a perder meu avô e não sei se ele sentirá orgulho de mim quando partir, não sei quanto tempo mais ele vai estar ao meu lado, não sei como ele está pois nem ao menos tenho forças para visita-lo. Agora, eu só paro pra pensar nos momentos que eu perdi por não estar ao lado da minha familia... Por aquela noite em que eu não disse o quanto o amava, por aquele dia em que eu briguei com ele, por aquele momento que eu estava de mau humor... Tão nova e já passa por tudo isso, é o que você diz, eu sei. Mas pra sofrer nunca se é nova, e para refletir nunca se é tarde. Quando sentei-me neste banco, meus olhos enchiam-se de lágrimas por estar tentando tirar disso tudo uma lição. Queria voltar no tempo, mas não posso, por isso te disse que ao acabar, reflita em tudo isso, pois nunca é tarde pra aprender e rezar.

Fiquei sem palavras diante de tal lição de vida vinda de uma jovem... Uma pequena menina que não parecia ter experiencias nenhuma e já com problemas tão grandes. Percebi que todo o valor que eu dava pra minha família era pouco, mas ela ainda completou:

- Sei que quando eu falo tudo isso você deve pensar que de agora em diante eu não vou perder um minuto se quer, mas vou. Sei que não serão todos os momentos que eu vou levar à prática tudo isso, mas não custa nada querer te mostrar o quão pode ser importante cada vida.

Em diante não era mais ela quem chorava, agora a situação revertia-se, era eu. Ela levantou-se, despedindo-se delicadamente de mim com um pequeno gesto de adeus e eu fiquei ali, sentada, tentando refletir no que pode ser a vida e porque ela é assim.
-
[ fiz nos últimos dias de vida de meu avô.- ainda dói, e muito. ]

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